Artigo de Dirceu Greco
É fato. No Brasil, 97% dos jovens de 15 a 24 anos de idade sabem que o preservativo é a melhor maneira de evitar a infecção pelo vírus da aids. O percentual de uso na primeira relação é de 61% e chega a 30,7% em todas as relações com parceiros fixos. Mas o uso da camisinha cai à medida que a parceria sexual se torna estável. Os dados são da Pesquisa de Comportamento, Atitudes e Práticas da População Brasileira (PCAP) do Ministério da Saúde, divulgada no ano passado. O que falta para a prevenção às doenças sexualmente transmissíveis (DST)? Algo comum ao universo juvenil: atitude.
Por que é difícil agregar atitudes e comportamentos preventivos, de uma maneira geral, em nosso cotidiano? O uso do preservativo somente começou a ser incorporado à cultura sexual da sociedade brasileira após o aparecimento da aids. A camisinha ganhou um papel de destaque, uma vez que até hoje não existe forma mais eficaz de se prevenir contra a infecção pelo HIV. Mas, nas relações estáveis, por exemplo, ela ainda é percebida por muitas pessoas como um indicativo de infidelidade ou de falta de confiança. E, em alguns casos, o não uso do preservativo é colocado como uma “prova de amor”. Outros, ainda, acreditam que não correm risco porque “conhecem” as pessoas com quem têm relações sexuais. A tendência de acreditarem que a aids não acontece com elas, somente com os outros, é preocupante. Considerando que a geração nasceu na era da camisinha, está na hora do jovem levar a sério a prevenção, ter a camisinha como aliada e adotá-la na sua rotina.
A mesma pesquisa mostra que a falta de atitude dos jovens em relação à aids segue a tendência de outras faixas etárias. De acordo com o levantamento da PCAP, 94% da população têm conhecimento das formas de transmissão do HIV e 98% sabem que somente o uso do preservativo pode evitar a trasmissão sexual. Entretanto, somente 50% revelaram ter usado a camisinha na última transa. A incorporação do sexo seguro, tendo o preservativo como fundamento, é um trabalho contínuo para que o uso da camisinha seja ampliado.
Uma linha do tempo do mesmo estudo sinaliza a mudança paulatina de comportamento e, nesse sentido, houve grande avanço: em 1986, somente 9% das pessoas relatavam ter usado camisinha na primeira relação sexual; em 2008, esse percentual chegou a 61%.
Apesar da polêmica em torno do assunto, o Ministério da Saúde considera importante o oferecimento do preservativo e a informação sobre sexualidade nas escolas. Por meio do programa Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE), em parceria com o Ministério da Educação, cada vez mais os serviços de saúde são incentivados a dar acesso aos jovens para que eles peguem camisinhas, quantas forem necessárias, sem burocracia. Ao contrário de suposições superficiais, o enfrentamento da aids não perdeu fôlego. Tanto o governo – com toda a ênfase no processo continuado de prevenção, além das duas campanhas de massa e inúmeras campanhas dirigidas realizadas a cada ano – como a sociedade civil continuam articulando respostas que mantêm o assunto em pauta.
No Dia Mundial de Luta Contra a Aids 2010, jovens, que tão cedo se depararam com o HIV, mostraram a cara. Meninos e meninas que mal começaram a vida sexuail e já têm que lidar com a rotina difícil de medicamentos e com uma realidade que só eles sentem – o preconceito. Não é nada fácil. São muitos desafios na escola, no trabalho, na vida. Essas pessoas com tão pouca idade mostraram sua identidade por uma causa muito maior: “Somos iguais, a aids não tem preconceito, você também não deve ter” (mensagem da mais recente campanha). É o momento de refletir e pensar no preconceito enfrentado por eles e no nosso papel nessa história.
Em relação ao tratamento, a parte positiva é que a média de casos por ano continua a mesma. A epidemia está estabilizada com a distribuição universal do tratamento e uma política de prevenção arrojada, que faz do Brasil uma referência no combate à aids. Na descoberta de novos casos há muitos avanços e também muitos desafios. Hoje, estima-se que no Brasil existam 630 mil pessoas com o HIV. Destas, cerca de 250 mil nunca fizeram o teste e não sabem que possuem o vírus. Se não sabem, não fazem o acompanhamento e, quando se descobrem soropositivo, é muito provável que já tenham complicações da doença. E não é isso que o Ministério da Saúde quer.
A meta é ampliar a cobertura do diagnóstico, oferecendo aos que necessitarem o mesmo direito das 200 mil atualmente em tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS). Atendimento digno, acesso aos medicamentos e melhor qualidade de vida. E, nesse sentido, os números de testes para aids dão indícios de que essa política vem dando certo. De 2005 a 2009, a oferta de testes laboratoriais e rápidos passou de 3,3 milhões para 8,9 milhões de unidades. O resultado já pode ser percebido no aumento da testagem para o HIV no país, que ampliou 38,4% em uma década. Mas ainda é pouco. O Ministério da Saúde continuará ampliando a oferta de testes para a população.
Agora é com vocês, jovens. Uma geração que luta por um mundo mais sustentável também precisa lembrar que qualidade de vida depende de atitudes reais, e usar a camisinha é uma delas. Prove que você pode fazer a diferença. Porque a aids não escolhe idade nem tem preconceito. Você também não deve ter.
Dirceu Greco é diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde. Infectologista, professor e pesquisador, é médico e doutor pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Disponível em:
http://www.agenciaaids.com.br/site/artigo.asp?id=346
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